"Bispos vão ter de ouvir as novas famílias"
Antes da entrevista começar, José Manuel Pereira de Almeida, 61 anos, coloca dois livros na mesa e abre no seu iPad um documento do arcebispo de Antuérpia Johan Bonny, que o pode ajudar durante a conversa. Não vai precisar de olhar para uns e outro, mas percebe-se que, para o pároco de Santa Isabel, no centro de Lisboa, o "Evangelho da Família" de Walter Kasper ou o texto do prelado belga são importantes referências na preparação da reunião extraordinária do Sínodo dos Bispos, que se inicia este domingo em Roma. Isso e a experiência de quem está à frente de uma paróquia desde 1999.
Este sínodo vai servir para alguma coisa?
Esperamos que sim. O sínodo é permanente desde o Concílio Vaticano II e tem reuniões extraordinárias e reuniões ordinárias e espera-se que as extraordinárias sejam mesmo extraordinárias. Esta prepara a sessão do ano que vem sobre "a família num contexto da evangelização". É um enfoque novo, não é para repetir doutrina da [Exortação Apostólica] Familiaris Consortio. Já agora reafirmar algumas das linhas seria importante. Mas é sobretudo para este enfoque novo da família e da evangelização, a que o Papa Francisco tem dado um impulso particularmente significativo, a partir da sua Exortação Apostólica Evangelii gaudium, de o sonho missionário chegar a todos - às periferias, aos excluídos...
Há um ano, quando o Papa Francisco chamou os católicos a responderem ao inquérito, sublinhou-se a novidade do Papa querer saber o que pensam os fiéis sobre divórcio, contraceção ou o casamento homossexual. Espera-se que os bispos os ouçam?
Suponho que sim, sobretudo na sua grande maioria. Há certamente alguns setores [da Igreja] que se dirigirão a Roma para dizer "se eles pensam isto, e pensam mal, a gente tem de lhes explicar melhor a sã doutrina". Creio que não corresponde ao sentir maioritário dos padres sinodais.
Há um discurso sobre estes divorciados recasados, que também é alargado a homossexuais, que é o da atitude respeitosa, não julgadora dessas pessoas...
Já não é mau, diria.
Mas não é julgadora quando essas pessoas vão ficando à margem?
O acolhimento das pessoas - por exemplo, dos homossexuais - tem de ser incondicional. O que importa é que não fiquem de fora, não se sintam de fora, por causa de gestos nossos. Em concreto, era muito importante que no sínodo estivessem discursos na primeira pessoa, de famílias em recomposição, em dificuldade, de pessoas que vivem situações familiares que não são as tais ditas regulares, para que esse ouvir possa ser feito.
Incluindo homossexuais.
Porque não? Os padres sinodais vão ter de ter ouvidos para isso.